31 de maio de 2011

Homenagem ao Dr Paulo Dolores - ex-Presidente da AAACL Colégio de Lamego



Saúdo, antes de qualquer outra palavra ou gesto, todos os presentes.

Ao fazê-lo, desta forma tão singela e tão arredada de protocolos, cumpro a lição de sobriedade natural que bebemos nesta Casa mãe.

A saudação que vos é dirigida abarca as memórias de um percurso de vida com referência ao nosso Colégio de Lamego, porto de abrigo a que regressamos, de facto ou em pensamento, cada vez que é preciso reinvestir e reinterpretar mensagens, assentes em princípios de vida imorredouros, em valores firmados em projectos de bem ser e de bem saber estar.

No fundo, sempre que pessoas ligadas ao Colégio de Lamego se reúnem, como é hoje o caso, trazendo consigo o que por aqui viveram, os anseios que suspiraram, as perplexidades que enfrentaram, os desafios que venceram, o que fazem de essencial é celebrar uma instituição secular, que se mantém geração após geração a criar pressupostos de existência e de cidadania, radicados em pilares que o tempo ajuda a tornar mais consistentes.

É importante, por isso, que todos nos sintamos rendidos ao imperioso dever de homenagear de todas as vezes que a oportunidade surge, porque todas são de menos, o Colégio, na força do seu ideário e da sua permanente acção.

Foi-me dada a palavra, nesta ocasião específica e especial, já que de homenagens se fala, para enaltecer a figura de uma pessoa ligada, desde há mais de quarenta e cinco anos à história do Colégio, feita do contributo de todos os que o amam e, por obras e arte, o engrandecem.

É com indisfarçado orgulho que realço o facto de o meu primeiro acto público como Presidente da Direcção da Associação de Antigos Alunos se destinar a honrar um homem que me habituei a estimar e a respeitar, sobretudo, pela predisposição que cria, em todos os actos da sua vida, para que cada um se sinta de bem consigo e de bem com os outros.

É um rapaz da minha criação, como ele próprio gosta de realçar, da geração daqueles que, já a resvalar dos cinquenta para os sessenta, não se esquecem do contínuo regresso ao apelo da Casa Mater.

Merecendo-a sob vários pontos de vista, desde logo pelo homem de corpo e alma inteiros que se tem afirmado em todo o seu itinerário de vida, a homenagem ao nosso comum amigo, Paulo Dolores, radica, como móbil mais próximo, no facto de ter entendido, por sua própria opção, deixar de ser o Presidente da Associação de Antigos Alunos, tal como aconteceu ao longo de nove anos ininterruptos.

No momento em que passa o testemunho, sem se alhear de tudo o que envolva o Colégio de Lamego, tendo prometido, com a palavra de homem que se lhe conhece e reconhece, responder a qualquer apelo de ajuda e colaboração que se lhe lance, faz todo o sentido juntarmos todos os abraços e todos os aplausos para testemunhar ao Paulo Dolores a força do nosso comum sentimento, que se traduz, antes de mais, em gratidão por tudo aquilo que deixou feito em prol da instituição que convoca os nossos sorrisos e os nossos entusiasmos.

Paulo, mereces esta homenagem. Mereces a homenagem que os da tua criação, os de antes da tua criação e os que continuaram a levantar a voz para engrandecer o Colégio, sentiram obrigação de te fazer, em tributo de um dever que lhes não deixava margem para outro tipo de decisão.

Foi esta a razão mais importante que me deu coragem para insistir contigo de que este era o tempo exacto em que tinhas por obrigação deixar que pudéssemos manifestar, publicamente, o reconhecimento pela tua acção.

Sou testemunha da dificuldade e resistência em aceitares esta homenagem. Ainda tenho gravadas em mim as palavras que disseste, do alto do teu porte direito, usando a tua voz seca, firme e assertiva: “Não quero cá homenagens nenhumas!”

Não querias, Paulo, esta homenagem, mas, para nosso contentamento, para prestígio da Associação e para honra do Colégio, levámos a nossa avante.

Não realizar um acto como este seria cometer, ao mesmo tempo, uma injustiça deliberada e uma falta de educação, que a nossa formação não admitia. Era forçoso reconhecer os teus méritos e estamos, aqui, para isso.

Tu, que tantos homenageaste, com eles insistindo, pese embora alguma inicial resistência, não podias impedir o cumprimento de uma vontade colectivamente assumida.
Vencemos-te, Paulo, e aqui estamos para te mostrar o apreço que temos por quanto és e por quanto fizeste.

Obrigado, Paulo Dolores, por te teres sujeitado ao nosso desejo.

Contigo, se nos permites, queremos, igualmente, dirigir uma palavra de reconhecimento, pelo esforço e abnegação postos na entrega à causa maior da Associação de Alunos e do Colégio, a todos aqueles que te acompanharam, ao longo de nove anos, nos órgãos sociais, prestigiando-nos e prestigiando-se.

Nove anos são nove anos! É quase uma década de trabalho incansável, em que se perceberam alguns vectores fundamentais e fundantes da estruturação da Associação de Antigos Alunos, com vistas alargadas, tendo como horizonte o futuro, caldeado no cadinho em que se conglomeram os valores do passado, trazido, na pujança da sua força vivificadora, a este presente, que é o nosso tempo e o nosso espaço.
Foi notório o esforço de todos vós, liderados pelo Paulo Dolores, para o rejuvenescimento da Associação, tentando unir, no mesmo espírito e no mesmo propósito, todas as gerações de alunos do Colégio.

Justifica-se um parêntesis, exactamente, para lançar um apelo directo e claro às gerações mais novas: sois vós, os mais jovens, os depositários da esperança de que não desfaleça, muito menos, de que não morra, o estado de espírito que eleva aqueles que têm a fortuna de passar e ficar agarrados à força que se desprende do Colégio de Lamego, que, acima de tudo, nos compete dignificar.

Foi isso mesmo que tu, Paulo e os que te acompanharam durante estes nove anos fizeram: dignificaram-se, dignificando o Colégio, mantendo bem levantado, até ao momento de o passarem de mãos, o estandarte de uma instituição que também vive na certeza das sementes que florescem no peito de cada um de nós, que transportamos o sortilégio de sermos formados e educados no Colégio da Ortigosa.

“Alcança quem não cansa” foi o teu lema, Paulo, bebido no ex-libris de Aquilino Ribeiro, ele próprio rendido à memória do Colégio que o ajudou a crescer.
Vai ser no exemplo da tua abnegação, do teu entusiasmo, na vossa crença de que vale a pena o esforço da luta pela elevação do Colégio, que eu e os que me acompanham nesta tarefa gloriosa de prosseguir caminhos de bem fazer por parte desta Associação de Antigos Alunos iremos buscar reservas para os projectos necessários e a acção sequente.

Paulo Dolores, amigo da minha criação, conheço-te para além da tua vertente de Presidente da nossa Associação, a quem acabo por fazer singelo mas sentido tributo.

Sei-te rapaz de grandes e de pequenas causas, sempre com o mesmo entusiasmo de alguém que faz da tenacidade, da perseverança e do destemor instrumentos funcionalizados ao êxito das tarefas a que deitas ombros.

Quem te conhece e tem seguido, mesmo que à distância, os teus passos vê-te, na tua pureza, como o protótipo do homem duriense, erguido na majestática pose do teu corpo, fazendo da frontalidade e da lealdade pontos de ancoragem da tua forma de estar e de viver.

És um homem do Douro, daqueles que foram capazes de construir o escadório de gigantes, que deslumbra e nos esmaga na magnificência de uma paisagem tirada a pá e pica de encostas de cascalho. Quase que apetecia dizer que, naquilo que representa de génese vital para o Douro, tens algo da força telúrica, da garra e do engenho dos galegos que suaram cada surriba, cada socalco, cada vide. O teu apelido “Dolores” convoca-nos para a hipótese de, lá bem no recuado dos tempos, poderes ter um desses antepassados galegos que nos brindaram com a dádiva da sua tenacidade, coragem e fé.

Procurar alguns dos traços que te pintam como pessoa leva-nos às tuas próprias palavras, quando escreveste, por ocasião da comemoração dos 150 anos do Colégio de Lamego, que ajudaste a organizar e a abrilhantar, que o teu carácter, como aluno dessa nobilíssima instituição, é o de alguém que olha sempre de frente e em frente, nunca olha de baixo para cima, e quando olha de cima para baixo é para amparar e ajudar a levantar quem para nós levanta o olhar de súplica, como dizia, impressivamente, Gabriel Garcia Marquez.

Não preciso de puxar muito pela memória para trazer a este discurso tanto que de ti me lembro do tempo que viveste no Colégio. Eras mais velho um ano e, em muitas situações, o meu olhar procurou-te como exemplo, vendo em ti o companheiro pronto na ajuda e na palavra amiga, um de entre nós, posto em pé de igualdade, que transpirava solidariedade e compreensão, que valorizava a justiça e a rectidão de conduta.

Eras um exemplo, um foco de atenção dos que contigo percorríamos os cantos e os
recantos de uma Casa que considerávamos mãe…

Até para te invejarmos a coragem de apareceres, muito antes de qualquer um de nós sonharmos com semelhante provocação, em plena década de sessenta do século passado, de calças à boca de sino e de cabelo à beatle.

Até para apreciarmos, roidinhos por assim não conseguirmos ser, o teu ar marialva, de galã, com fama e proveito a condizer de conquistador.

(Lembras-te daquele episódio, em 1973, em Vila Real, na final do campeonato nacional de voleibol de juvenis, desporto que tão bem praticavas, quando, imitando-te, alguns de nós nos envolvemos em proximidades, mais ou menos inocentes, mais ou menos proibidas, com as meninas de outras equipas? Ao que nos expusemos para te imitar nos arroubos de galã!… Enlevados, no hall do Hotel Tocaio, encontrou-nos o saudoso Padre Alberto, que, vociferando: “Isto parece Paris à noite”, nos correu para os respectivos quartos, desapartando-nos das nossas recentes conquistas.

Manifestamente, não nascêramos como tu, Paulo Dolores, para esses feitos bem sucedidos de galanteio!)

Pois é, amigo Paulo, assaltam-me tantas memórias dos nossos tempos de rapazes, umas mais sérias, outras mais chocarreiras, que me esqueço que este é um discurso de prometida e merecida homenagem.

Deixa-me só trazer ao presente o quanto eras e és homem de família, sobretudo assente na verdadeira paixão que para ti era o teu pai, que não te cansavas de nos mostrar como exemplo de grandeza, de honradez, de empreendedorismo, de ligação à terra e à arte de dela tirar os frutos, os ganhos e a afeição.

Saíste ao teu pai no pundonor, na energia, na capacidade de te entregares a causas maiores, como foi a de seres, durante quase uma década, Presidente da Associação dos Antigos Alunos do Colégio de Lamego.

Sei eu, porque te conheço a índole, que “Presidente uma vez, Presidente toda a vida”, tendo a certeza de que, como disseste, sendo da tua criação, poderei contar com a tua permanente colaboração no exercício do cargo que, com orgulho e entusiasmo, recebi das tuas mãos, testemunho do nosso comum amor a este Colégio de Lamego.

Como vês, Paulo, mereceste bem esta homenagem, por seres como és, como gente de bem, como rapaz de fibra, como homem de valores, como depositário da superior mensagem do Colégio, como exemplo de vida, como alguém a quem apetece, de forma emocionada, apertar com este
ABRAÇO.

* José Alberto Soares Marques (ex-aluno)
( Presidente da Direcção da AAACL do Colégio de Lamego)
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A actual Direcção, presidida pelo Dr. José Alberto Soares Marques, prestou uma
justa e merecida homenagem a um dos seus sócios fundadores e seu Presidente cessante – Dr. Paulo Dolores in Notícias do Douro Edição online de 03/06/2011.

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